Orígenes ao escrever contra Celso acerca de suas objeções contrárias ao cristianismo, faz uma observação importante ao pontuar a necessidade da apologética:
(...) para não parecer hesitante diante da tarefa que me ordenaste, faço o que posso para responder a cada uma das afrontas escritas por Celso, embora elas sejam incapazes de abalar qualquer fiel.
Apesar de não considerar os argumentos de Celso como ameaça a sua própria fé e não saber em que categoria classificar aqueles que precisam de argumentos para permanecerem cristãos, Orígenes todavia admite que na multidão daqueles que são considerados crentes, algumas pessoas podem ser encontradas como tendo sua fé abalada ou derrubada por criticas como as de Celso, e então obviamente, reconhece a necessidade de uma resposta que refute tais declarações para que a verdade prevaleça e a fé cristã seja preservada. E é neste intuito, que a apologética se destaca, como um sistema de respostas não apenas para aqueles que são totalmente desconhecedores da fé cristã, mas também para aqueles que, como o apóstolo Paulo os denomina, são fracos na fé.
Orígenes participou da chamada Escola de Alexandria, que desde o século II d.C. formava diversos indivíduos nas letras clássicas e nos ensinamentos das Escrituras, sendo avaliada pelos pesquisadores como um campo de saber de grande expressão cultural. Esse conjunto de fatores levou os estudiosos a concluírem que o trabalho de Orígenes destaca-se como o culminar de todo o movimento apologético dos séculos II e III. O que Orígenes nos oferece, no entanto, é muito mais que uma refutação ponto por ponto a um adversário muito bem informado, como foi Celso. Segundo declarou Chadwick (1953, p. ix), essa apologia também nos auxilia a observar os argumentos que Orígenes teria utilizado numa disputa com pagãos de Alexandria, e o modo como ele próprio, em sua mente, poderia ser convencido de que o cristianismo não era uma credulidade irracional, mas sim uma profunda filosofia.
Em Orígenes, evidenciamos uma tarefa apologética que se configura em uma defesa sistemática da fé por meio de respostas, com o melhor de nossa capacidade, para demolir argumentos contrários ainda que os tais não tenham poder para abalar a fé de nenhum verdadeiro cristão. E como já mencionado, em sua apologética Contra Celso, ele não se limita apenas em refutar ponto por ponto as acusações, críticas e injurias formuladas pelo filósofo, mas também afirma o caráter peculiar do cristianismo.
Para além desse propósito inicial, outro que ressalta claramente do texto do Contra Celso é o de estabelecer uma distância entre o cristão “genuíno” e seus contemporâneos pagãos, judeus, hereges e, sobretudo, os judaizantes. Por esse motivo, em sua tarefa apologética Orígenes não apenas refutou as acusações de Celso, mas procurou, igualmente, advertir os cristãos acerca do perigo das heresias e, sobretudo, acerca do “contágio” judaico dentro da Igreja, proporcionado pelos judaizantes.
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Evidentemente tal tarefa cabe a todo verdadeiro cristão que deve se apresentar como um "obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade". (II Timóteo 2:15.)