Sobre o Rev. Steven Lawson – e a mentalidade donatista na igreja reformada.
por Francisco Tourinho
Há um ditado popular que diz: "Viva os erros, porque dos acertos ninguém lembra!" De fato, é comum nos apegarmos a um só evento na vida de uma pessoa para defini-la por completo. O contrário também acontece: muitas vezes, uma pessoa é extremamente má, mas por um ato de bondade antes da morte, torna-se boa aos olhos de muitos.
A santidade, diferente do que muitos, como os católicos romanos pensam, não é sinônimo de perfeição, mas de crescimento na fé e nas boas obras. Esse crescimento não precisa ser progressivo e proporcional; pelo contrário, pode incluir quedas. O salmista Davi diz: “Torna a dar-me a alegria da tua salvação” (Sl 51:12). Note que Davi não pede a salvação de volta, mas sim a alegria, o prazer de estar salvo, pois podemos cair ao ponto de pensarmos não mais estar salvos, mas é preciso lembrar dessa promessa.
Por quanto tempo Davi adulterou com Bate-Seba? Uma pessoa pode ter um pecado de estimação, mas é injusto reduzir toda uma pessoa, toda uma vida, a uma só característica que ela tenha, a um só feito de sua vida.
Certamente, Lawson, nesse período de pecado, também agiu bem por diversas vezes e deixou de cometer muitos outros pecados, é impossível que Lawson tenha caído em todos as tentações que apareceram durante esses 5 anos.
A questão não é se ele perdeu para o diabo durante todo esse tempo, mas se ele, dentro do seu coração, não se sentia mal com isso. E nós não somos oniscientes para saber como ele se sentia diante dessa situação.
A diferença entre o pecado do crente e o pecado do ímpio é que o crente nunca mais peca em paz. O ímpio peca por pura maldade; o crente peca por fraqueza.
É notória a incapacidade de muitos de lidar com a disciplina da santidade. Isso ocorre porque confundem santidade com infalibilidade. Pensam que, para serem puros, aceitos por Deus, ou para que sejam dignos da presença Dele, precisam tornar-se impecáveis.
Não estou afirmando que devemos fechar os olhos para o pecado, mas sugerindo uma forma melhor de julgá-lo. Será correto chamar Lawson de “falso profeta”? Árvore infrutífera? Terra seca?
Ora, Eli foi um péssimo pai, mas ensinou Samuel a ouvir a voz de Deus! Davi mandou matar seu melhor amigo para ficar com sua mulher, mas ainda era um homem segundo o coração de Deus! Moisés foi um assassino, e nem por isso deixou de ser um dos maiores homens da história. Salomão se envolveu espiritualmente com o paganismo, mas ainda é considerado o homem mais sábio. Vamos jogar fora os livros de Provérbios e Eclesiastes? No mesmo Eclesiastes está escrito: “Pois não há homem justo sobre a terra, que faça o bem e nunca peque” (Ec 7:20). Ló dormiu com suas filhas.
Nas parábolas, há a dracma perdida, a ovelha perdida e o filho pródigo. Nenhum deles deixou de ser o que é: dracma, ovelha e filho! Não importa que haja uma queda temporária da graça, o filho e a ovelha não deixam de ser quem são.
Francisco Tourinho é Graduado em Teologia pelo Centro Educacional Universitário de Teologia e Filosofia e Instituto Bíblico das Assembléias de Deus (IBAD), Professor de Teologia no Seminário Jonathan Edwards na disciplina de Calvinismo Escolástico. Estudos na área de Filosofia e Teologia, e Autor do livro "O Calvinismo Explicado".