Furos na Hipótese Documentária

A hipótese documentária ganhou força antes mesmo que algumas de suas objeções fossem derrubadas pela arqueologia moderna no século XX.
Pentateuco

A autoria mosaica do Pentateuco encontra sua principal oposição na chamada "Hipótese Documentária" de Julius Wellhausen. Tal hipótese e suas teorias põe em dúvida a credibilidade do Antigo Testamento em sua inteireza. Se suas asserções forem corretas, então teríamos de concluir que o Antigo Testamento é uma gigantesca fraude e deveríamos reconhecer que temos em mãos um enorme embuste literário. Contudo, tal hipótese e muitas de suas objeções não passam de teoria circunstancial, consistindo em inferências derivadas de uma análise literária dos documentos mal direcionada e totalmente falaciosa que ainda persiste por pura preguiça, soberba e preconceito intelectual de seus adpetos. Para além disto, tal hipótese ganhou força antes mesmo que algumas de suas objeções fossem derrubadas pela arqueologia moderna no século XX.

Considere brevemente algumas:

1 - A teoria crítica alegava que a escrita alfabética era desconhecida nos dias de Moisés, (e isso impossibilitaria a sua autoria do Pentateuco) já a arqueologia demonstra plenamente que Moisés poderia ter escrito o Pentateuco tanto em hebraico antigo, como em cuneiforme acadiano ou até hieróglifos egípcios, conforme desejasse. Paralelos com o hebraico antigo inclusive, foram encontrados nos documentos eblaítas encontrados em Tell Mardikh, no norte da Síria que datam até 2300 a.C.

2 - A teoria crítica alegava que o povo de israel jamais esteve no Egito antes do seu exílio-babilônico e nunca estabeleceram uma nação em Canaã. Já o "Papiro Brooklyn 35.1446" da13ª Dinastia (1809–1743 a.C.), logo após a época de José, derrubou a especulação com uma lista comprovando que o povo hebreu vivia no Egito antes do Êxodo. E escavações em Tell el-Dab'a revelaram a presença de uma comunidade 'asiática' que primeiro se estabeleceu como pastores, depois cresceu em número como empreendedores abastados, tornou-se subserviente aos egípcios e finalmente partiu. Este cenário corresponde exatamente ao que lemos na Bíblia. Some isso a pintura na tumba de Rehkmire e aos papiros egípcios (Anastasi IV e V) com destaque ao uso de escravos na fabricação de tijolos com palha ( exatamente como a descrição bíblica do processo de fabricação de tijolos.) Os judeus no pós-exilio não tinham acesso a tais detalhes como o "Caminho de Hórus" por exemplo, (caminho da terra dos filisteus) encontrado em 1970. A Bíblia diz que Moisés conduziu os israelitas por um caminho alternativo através do Mar Vermelho (em hebraico, o yam suf , literalmente “mar de juncos” ), que pode corresponder aos pântanos e sistemas de lagos na fronteira oriental do Egito retratados no relevo das guerras de Seti.

Contrariando todas as especulações dos documentaristas e para o desprazer destes teóricos, descobertas arqueológicas encontraram o Pedestal de Berlim, a Estela de Merneptah e a Inscrição Soleb, ambos datando entre os séculos 12 e 15 antes de Cristo e apresentando evidência clara a Israel como uma nação em Canaã, após passar pelo Egito assim como o nome de Yahweh e seus adoradores.

3 - Os críticos defensores da hipótese JEDP, a tal teoria documentária, dizem que o Pentateuco reflete um estilo literário de um período bem posterior. Por exemplo, o deuteronomista (D) usa estilo e estrutura do século VII a.c. Mas essa alegação também não pode ser baseada em fatos. Descobertas arqueológicas mostram que a forma literária usada em Deuteronômio é, na realidade, uma forma antiga de todo o Oriente Médio. Moisés segue como esquema literário os tratados de suserania feitos entre reis e seus súditos que eram totalmente desconhecidos nos período pós-exilio-babilônico mas são bem detalhados no Pentateuco.

4 - Os críticos supõem que Moisés não poderia ter escrito em mais de um estilo. Mas como egípcio culto, ele foi exposto a tratados de suserania e a todas as outras formas narrativas e artísticas disponíveis na época. Bons autores modernos mudam de estilo e forma conforme desenvolvem sua arte e também para criar efeito. Às vezes eles podem usar formas diferentes num única obra. Um exemplo notável é C. S. Lewis. Os críticos da Bíblia ficariam loucos se fossem confrontados com o nome de um mesmo autor em histórias infantis, críticas literárias profundas, análises escolásticas, sátiras alegóricas, ficção científica, narrativa biográfica, disputas e tratados lógicos.

Os críticos ao modo Wellhausen ainda argumentam que nomes diferentes de Deus em passagens diferentes indicam autores diferentes. (É sério isso?) Eles indicam que Gênesis 1, usa exclusivamente 'elohim' para Deus ( e aqui temos uma autor diferente) já queGênesis 2 a frase 'Yahweh elohim' (Senhor Deus) é usada. Segundo eles, o uso de Yahweh (ou Javé) é considerado indício da mão do autor javista (J).

Honestamente, na EBD com 12 anos numa batista de interior baiano já lidavamos com isso onde a explicação mais natural é que os nomes diferentes de Deus são usados, dependendo do assunto e do aspecto de Deus que está sendo discutido. O nome majestoso elohim é uma palavra adequada ao falar da criação, como em Gênesis 1. Yahweh, o que faz alianças, é mais adequado quando Deus se relaciona com pessoas, como em Gênesis 2, 3.
 
Estas e outras questões levantadas pela hipótese documentária da alta crítica que dividem o Pentateuco são metodologicamente infundadas. Quer a divisão seja feita com base em nomes divinos, palavras raras, aramaísmos ou a "evolução" da religião, os estudos modernos têm provado que essas divisões não suportam um escrutínio minucioso. O fundamento de toda a verdade revelada e do plano redentor de Deus está no Pentateuco. Se esse fundamento não é fidedigno, toda a Bíblia não é fidedigna.

Há de se esclarecer ainda, que, por autoria mosaica do Pentateuco, significa que, Moisés foi o autor fundamental do Pentateuco apesar de ter se valido de tradições orais e documentos previamente existentes e que obviamente ele não escreveu originalmente cada palavra do Pentateuco como o obtemos atualmente. O uso de escribas ou amanuenses na compilação dos livros nunca foi descartado e é também evidente que, sob a orientação divina, tenha havido pequenas adições secundárias posteriores, e até mesmo revisões (Dt 34).

Sobre o Autor

Graduado em História (Licenciatura Plena) com pós-graduação em História do Cristianismo, Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira. Pós-graduado em Teologia Sistemática. Casado com Miriam Lisboa Freire e Historiador credenciado - CRP: 0000545/MG.

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